
Web3 Ainda Está Vivo? Perspectiva dos Desenvolvedores sobre Programação em Blockchain
Desde o boom inicial das criptomoedas e a explosão dos NFTs, o termo “Web3” passou de promessa revolucionária a motivo de ceticismo em muitos círculos tecnológicos. Em 2025, no entanto, longe de estar morto, o ecossistema Web3 está passando por uma fase de maturação silenciosa e estratégica. A empolgação exagerada cedeu lugar a iniciativas mais sólidas, ferramentas de desenvolvimento mais robustas e uma comunidade mais consciente dos desafios técnicos e regulatórios.
Neste artigo, analisamos o estado atual da programação em blockchain, os desafios enfrentados pelos desenvolvedores e as oportunidades que ainda mantêm a Web3 viva no dia a dia de quem escreve código.
A Retração Pós-Hype e o Reencontro com a Realidade
Após o pico entre 2021 e 2022, muitos projetos Web3 desapareceram ou se reestruturaram. O mercado percebeu que apenas descentralização não basta: era preciso usabilidade, escalabilidade e segurança. Com a queda de alguns gigantes e uma onda de regulação mais rígida, os desenvolvedores passaram a olhar com mais pragmatismo para o blockchain.
Apesar disso, a base tecnológica da Web3 — contratos inteligentes, tokens programáveis, dApps (aplicativos descentralizados) — continuou a evoluir. A nova geração de projetos prioriza resolver problemas reais, e não apenas criar tokens ou marketplaces. Isso gerou um cenário onde os desenvolvedores mais comprometidos seguem firmes, focando na construção de infraestrutura sólida, interoperável e segura.
Ferramentas de Desenvolvimento Mais Maduras

Uma das maiores mudanças percebidas pelos programadores é o salto na qualidade das ferramentas. Frameworks como Hardhat, Foundry e Brownie tornaram o desenvolvimento com Ethereum (e EVMs em geral) muito mais fluido. Debugging, simulação de contratos e testes automatizados estão cada vez mais integrados.
Além disso, linguagens como Solidity continuam predominantes, mas Vyper (com sintaxe semelhante ao Python) vem ganhando espaço por priorizar legibilidade e segurança. Paralelamente, linguagens alternativas como Rust são amplamente usadas em blockchains como Solana, Near e Polkadot, trazendo mais diversidade técnica ao ecossistema.
Adoção de L2s e Blockchains Alternativas
A grande dor de cabeça dos desenvolvedores Web3 sempre foi a escalabilidade. Em 2025, soluções de camada 2 (Layer 2) estão mais estáveis, como Arbitrum, Optimism, zkSync e Starknet. Essas soluções reduzem taxas e aumentam a velocidade de transações, tornando viável o desenvolvimento de aplicações reais com experiência de usuário mais próxima da Web2.
Além disso, blockchains alternativas como Avalanche, Cosmos, e especialmente Solana, continuam atraindo desenvolvedores por suas vantagens em performance e design de arquitetura. Com suporte crescente a SDKs e APIs amigáveis, essas redes permitem que o desenvolvedor Web3 fuja das limitações históricas da Ethereum, sem abandonar a descentralização como princípio.
Novos Casos de Uso: DeFi, Real World Assets e Identidade Digital

O foco em 2025 mudou: menos JPEGs de macacos milionários e mais soluções concretas. As aplicações descentralizadas mais promissoras estão agora em áreas como:
- DeFi institucional: Com integração a stablecoins regulamentadas, crédito descentralizado e soluções de KYC.
- RWA (Real World Assets): Tokenização de ativos reais, como imóveis, ações e commodities.
- Identidade digital: Protocolos como o Worldcoin e soluções baseadas em zk-proofs vêm explorando modelos de identidade descentralizada com foco em privacidade.
Esses novos caminhos estão atraindo um perfil de desenvolvedor mais experiente, que enxerga na Web3 não apenas uma tendência passageira, mas uma camada tecnológica complementar ao que já existe.
A Relação com o Frontend: Web2.5 na Prática
Para o desenvolvedor que trabalha com interfaces, a realidade em 2025 é híbrida: estamos na era do “Web2.5”. Isso significa que muitos projetos Web3 utilizam tecnologias clássicas do frontend — como React, Next.js e TypeScript — mas se integram com carteiras, contratos inteligentes e redes descentralizadas através de bibliotecas como wagmi, ethers.js e viem.
Essa combinação exige que o desenvolvedor tenha domínio de conceitos tradicionais (como REST e UX) e, ao mesmo tempo, entenda assinaturas criptográficas, lógica de contratos e comportamento assíncrono em blockchains. A curva de aprendizado ainda é alta, mas as ferramentas estão mais bem documentadas e a comunidade mais madura.
Desafios Persistentes

Apesar dos avanços, programar para blockchain ainda impõe obstáculos relevantes:
- Complexidade de testes: Simular redes descentralizadas e prever todos os comportamentos possíveis continua sendo difícil.
- Problemas de UX: A necessidade de carteiras, taxas de transação e janelas de assinatura ainda afastam o usuário médio.
- Governança técnica e social: Muitos projetos Web3 exigem decisões comunitárias, o que pode atrasar evoluções técnicas ou gerar conflitos de interesses.
Além disso, o ambiente regulatório ainda é incerto em diversos países, o que impõe cuidados extras para os times de desenvolvimento.
Formação e Comunidade: Um Novo Perfil de Dev Web3
Em 2025, o desenvolvedor Web3 típico não é mais o entusiasta iniciante de 2021. Agora, vemos um perfil mais técnico, multidisciplinar e com maior preocupação com qualidade de código, segurança e escalabilidade. Bootcamps e cursos especializados estão mais organizados, com foco em boas práticas e fundamentos de criptografia.
Comunidades como a ETHGlobal, Developer DAO e grupos locais seguem sendo importantes polos de troca de conhecimento e networking, promovendo hackathons e mentorias constantes.
Conclusão
A Web3 em 2025 não é a mesma que vimos nascer há alguns anos. Ela deixou de ser apenas uma promessa disruptiva e virou uma área de desenvolvimento com nichos bem definidos, ferramentas maduras e desafios reais. Embora a empolgação generalizada tenha diminuído, o potencial de transformação ainda existe — e os desenvolvedores que permanecem nesse ecossistema estão construindo com mais responsabilidade, consciência técnica e visão de longo prazo.
Web3 não está morta. Está evoluindo. E os programadores atentos sabem que o futuro da internet pode muito bem passar pelo código que estão escrevendo hoje.